Liceu Vieira Dias


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Biografia

Carlos do Aniceto “Liceu” Vieira Dias é considerado como o fundador da música popular angolana. Diz-se que ele nasceu em 01 de Maio de 1918(9) em Luanda mas é assente em sua certidão de nascimento, que ele nasceu em Banana, ex-Congo Brazzaville. Vieira Dias fez parte da classe social colonial designada de assimilados e, embora ele não fosse residente do Bairro Operário, suas criações foram influenciadas pelas pessoas e outros músicos que lá viviam. Foi um dos fundadores da banda N'gola Ritmos.

Numa base de violas acústicas, introduz a dikanza (reco reco) e as ng’omas (tambores de conga) nas suas canções. O seu som torna-se popular na década de 50, nas áreas urbanas, onde a audiência é favorável à sua mensagem politizada e aos primeiros pensamentos nacionalistas.

Foi também um dos fundadores do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e esteve preso durante mais de uma década no campo de concentração de Tarrafal, em Cabo Verde.

Ele começou a sua carreira musical com a aprendizagem de instrumentos musicais europeus, como piano e guitarra, e em 1930 formou a banda Grupo dos Sambas com outros jovens assimilados. O grupo tocava principalmente músicas brasileiras, uma experiência que ajudou Liceu Vieira Dias a descobrir o valor que tinha a cultura angolana. Em seguida, Vieira Dias e outros de sua geração começaram a enfatizar a africanidade da sua herança cultural que era muito desprezada pela sociedade colonial. Em 1947 ele criou a banda Ngola Ritmos, que é geralmente creditado como os precursores do semba, um novo gênero musical na época. Os outros membros do grupo eram Domingos Van-Dúnem, Mário da Silva Araújo, Manuel dos Passos e Nino Ndongo. Na década de 1950, a banda era composta por Liceu, Nino, Amadeu Amorim, José Maria dos Santos, Euclides Fontes Pereira, José Cordeira, Lourdes Van-Dúnem e Belita Palma.

Vieira Dias e Ngola Ritmos estavam traduzindo canções tradicionais do campo em uma música popular que era dançante, estabelecendo dessa forma as raízes do semba. Técnicamente, a inovação baseva-se no uso de instrumentos locais. O som da dikanza foi traduzido para acordes de guitarra e outros instrumentos locais foram usadas para substituir instrumentos europeus. Alguns solos famosos do guitarrista congolês Franco foram adaptados e incorporados em instrumentações do semba. Vieira Dias tocava com a sua guitarra músicas que ouvia sua mãe e avó cantar. Ele também trascreveu para guitarra ritmos e canções que ouviu quando ele estava viajando pelo país com seu pai, que era funcionário público. Desta forma, usando uma combinação de instrumentos europeus e angolanos, com base em ritmos locais e adaptando frases musicais de música produzida em outros países, Vieira Dias transformou as práticas musicais locais em um estilo que era semelhante ao das músicas estrangeiras tocadas nas rádios e festas, mas com sabor de Angola e cantada em kimbundo, durante um período em que as línguas locais eram reprimidas pelo regime colonial. Algumas canções foram baseadas em músicas tradicionais de diferentes partes do país, incluindo canções adaptadas do carnaval, que se adaptaram para versões mais dançantes, apreciadas em festas e facilmente aceites nas estações de rádio.

Muitas das músicas do Ngola Ritmos tornaram-se padrões da música angolana. Por exemplo, argumenta-se que “Angola Avante Revolução” é o hino nacional, mas “Muxima” é o hino da nação. Esta canção evoca o meio cultural da década de 1950 e hoje quando uma banda toca essa música todo o público canta e se movimenta em conjunto. Os que não sabem toda a letra da canção pelo menos sabem o refrão. Mais do que qualquer outra canção, “Muxima” não tem um só autor, mas está associado com o trabalho dos Ngola Ritmos e é um exemplo da maneira como eles recravam as canções locais. Neste caso, eles não visavam torná-la dançante, mas sim audível em salas de concerto e nas rádios. Muxima é uma palavraem kimbundo que significa “coração”. É também o nome de uma cidade construída nas margens do rio Kwanza, cerca de sessenta quilômetros ao sul de Luanda. Lá está situada uma Igreja Católica que está associada com benefício espiritua.l Peregrinos de todo o país, particularmente de Luanda, viajam para a igreja em busca de bênçãos. A Santa padroeira da igreja é Santa Ana, mãe da Virgem Maria e padroeira das mulheres em trabalho de parto. Isso explica o nome de Santana nas letras, que é derivado de Santa Ana. Ana supostamente permaneceu sem filhos até muito mais tarde, portanto, a igreja em Muxima se tornou o destino de muitas mulheres que têm dificuldade em conceber. A canção conta a história de um mal-entendido entre duas mulheres em que um acusa a outra de bruxaria. A acusada, então, propõe irem para Santana (Muxima) para resolver a situação.

A popularidde dos Ngola Ritmos na década de 1950 deu-lhes o acesso às estações de rádio nacionais e suas canções foram gravadas na rubrica chamada “folclore”, que era transmitida em todo o país. A música dos Ngola Ritmos teve um enorme impacto político na sociedade e mobilizou os movimentos nacionalistas que eram contra o regime colonial. A maioria das festas animadas por Ngola Ritmos foram usadas ??pelos nacionalistas para as reuniões anti-colonialistas. Em 1959 os membros dos Ngola Ritmos, Vieira Dias, Amadeu Amorim e José Maria dos Santos, foram presos e deportados para a prisão do Tarrafal em Cabo Verde por cerca de mais de dez anos, principalmente devido ao conteúdo de algumas de suas músicas e pelo apoio que davam à causa nacionalista. Eles estavam ligados ao MIA (Movimento para a Independencia de Angola), e são considerados como parte dos membros de elite que fundaram o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Vale a pena mencionar que durante esse período houve outros grupos que cantavam em kimbundu, tocavam instrumentos locais, usavam indumentarias típicas locais e incluiam dançarinos. Fogo Negro, Xenda Hala, Negoleiro dos Ritmos e Estrela Canora eram bem conhecidos, mas eles usavam uma abordagem diferente do Ngola Ritmos.

Apesar de toda a popularidade alcançada, gravações originais dos Ngola Ritmos são raras. Suas músicas são reproduzidas por muitos outros grupos e músicos que vieram depois deles. Quando Liceu Vieira Dias, Madeu Amorim e José Maria foram enviados para a prisão, o grupo não terminou e os outros membros, liderados por Nino N’Dongo, mantiveram a produção do seu estilo característico, mas com um sabor mais comercial. Zé Cordeiro, Gégé e Xodó, juntaram-se ao grupo nessa época. Em 1960 o grupo seguiu para Lisboa onde gravaram dois discos e um show de televisão para a RTP.

Quando saíram da cadeia no inicio dos anos 1070, Liceu Vieira Dias, Amadeu Amorim e José Maria dos Santos foram obrigados a apresentar-se à polícia a cada duas semanas e foram proibidos de efectuar qualquer apresentação pública ou atividade política. Após a independência do país em 1975, veio a guerra civil e registou-se um grande declínio na produção musical em Angola. O grupo se tornou mais velho e perdeu a energia que tinha décadas antes. Argumenta-se que Ngola Ritmos tenha morrido muito antes de seus limites, mas seu trabalho influenciou as gerações seguintes de músicos como Elias Dia Kimuezo, Kiezos, Jovens do Prenda e outros.

Em 1978 o produtor de cinema António Ole fez um filme com os Ngola Ritmos, e foi a última vez que o grupo apareceu em publico com todos os seus membros. Incluiu a actuação de Rui Mingas, que é sobrinho de Liceu Vieira Dias. Em 2009/2010, inspirado no livro “Estórias para a História da Música Angolana”, escrito por Maurio Rui, Jorge António produziu um filme documentário em três partes sobre a história da música angolana, onde está também destacou o trabalho de Liceu Vieira Dias e Ngola Ritmos, incluindo partes do documentário de António Ole de 1978 e os depoimentos dos dois únicos membros de sobreviventes, Amadeu Amorim e Gégé.

Abaixo está listado o que pudemos encontrar sobre a discografia do Ngola Ritmos. Por favor, entre em contato conosco se você estiver interessado em ouvir o mp3 da gravação original das músicas listadas.

Fontes:Jodosoft