Manu Dibango:“Meu domínio é a música e minha política é estar engajado musicalmente”

94 2020-03-30 19:22:02 Arte & Cultura
Rendemos uma singela homenagem ao símbolo incontornável da música africana com a publicação de uma entrevista concedida em Abril de 2008, ocasião em que foi convidado pela revista “Africa Today”, em Luanda, para três concertos memoráveis.

Sob a luz do luar que brilha de esperança, rompe o lirismo da sonoridade do saxofone, quebrando o silêncio da noite africana. A África dos ritmos velozes, na cadência das danças infinitas, a África das múltiplas cores, a África da tolerância, a África, berço de todas as artes. Plural, plástico e soba da africanidade musical é assim, Manu Dibango. É o nosso, Marabú, que leva num voo poético, a profundidade da África à compreensão e entendimento da cultura universal para as salas do mundo, onde fez ecoar a pulsação rítmica do batuque africano. Globalizado, irreverente e permeável, a sua música estabelecerá para a eternidade, a ponte fraterna entre a tradição e a modernidade. Simples mas não simplista, a música de Manu Dibango desafia as sensibilidades mais exigentes, numa perspectiva de valorização do múltiplo e integração do controverso, como dois motivos, profundos, de fruição do conhecimento artístico. E assim foi para a eternidade, pelo motivo mais inesperado, o nosso Rei, provavelmente o nosso Deus da música. Prestemos então a nossa singela vassalagem musical, nesta modesta entrevista.

Em que medida o conhecimento das culturas africanas e das suas mais importantes referências musicais, terá influenciado o seu processo criativo?
Em muito... em muito. Mas a génese da nossa arte, enquanto africanos, depende da situação geográfica e cultural onde nos encontramos, ou seja, se somos da África ocidental, austral ou central. No entanto, sabemos que somos praticamente todos bantu, culturalmente, e, por esta razão, há ligações culturais comuns. Em princípio, em África, a arte é sagrada. Se tivermos um espírito criativo, claro que tudo dependerá da forma como fomos educados e da relação que temos com a nossa própria criação, os nossos contextos familiares e as nossas tradições culturais serão mais úteis à nossa produção artística. Tudo começa na família, porque se o pai e a mãe não se entendem, temos logo à partida um factor de impedimento. Mas se no desenvolvimento da nossa vida o nosso crescimento for normal, então a repercussão será diferente. Nós fomos colonizados e temos, objectivamente, duas culturas. A africana, que nos é tradicional, e a modernidade, de tipo ocidental. O problema será encontrar o equilíbrio, entre estas duas culturas. Por termos estas duas possibilidades, criamos uma cultura que os outros não têm. Eles, refiro-me à cultura ocidental, trazem algo que podemos desconhecer mas que podemos transformar para encontrar o equilíbrio, muitas vezes difícil de concretizar, porque há sempre uma dominante. Eles, com a modernidade, pretendem ser os dominadores, eu na minha trajectória encontrei o equilíbrio. Transporto a minha africanidade pelo mundo. Nunca me defini, culturalmente americano, francês ou ocidental. Sou africano e toda a gente sabe. Tudo o que recebi na minha vida foi como africano, daí que eu tenha guardado a minha parte, culturalmente africana mas temos que ser abertos.

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