Sinopse
A contemporânea literatura africana pertence a uma rede de cumplici-
dade. Rede esta cuja matriz primeira é a tradição, fonte que durante décadas
vem alimentando as narrativas africanas. Neste sentido, os escritores estabe-
lecem um pacto com as suas origens e, convocando outras memórias, seguem
o percurso dos contadores ancestrais.
O espaço matricial é recuperado em vários níveis, o destaque, no en-
tanto, é para a discursividade oralizada e a materialização de tal discurso,
quando o autor modifica, altera a língua portuguesa ao introduzir termos e
estruturas frasais oriundas do kimbundu, do kikongu, do umbundu e de
outras línguas que representam o lugar da angolanidade. Logo, o conto an-
golano tem uma tradição oral, constitui-se numa herança ancestral, baseada
em lendas, mitos, fábulas e provérbios.
Para esta antologia priorizamos contos de autores que valorizam a cul-
tura tradicional e de temáticas mais contemporâneas. São títulos fora do “gri-
to” anti-colonial, base de muita produção suficientemente divulgada nos perío-
dos pós-independência. Sendo assim, textos como “Sassa-Lukaiu” e “Os dois
Filhos de Dom Petelo”, in Três histórias populares e “Porque comi o meu mes-
tre?”, in O último feiticeiro corroboram esta temática.
Nesta linha de raciocínio, pode-se dizer que o hibridismo matricial - as
recordações do autor e da comunidade a que pertence - presentes nos textos
de autores como José Eduardo Agualusa, Carmo Neto, Isaquiel Cori, Sônia
Gomes, entre outros que compõe esta antologia, constituem um paradigma
que busca abarcar as diversas nuances discursivas presentes no cenário literá-
rio actual. Por outro lado, verifica-se que as narrativas aqui representadas
dialogam também com outras literaturas. Cabe ressaltar, no entanto, que a
composição da antologia procura atender também a uma necessidade cres-
cente de materiais acessíveis para atender os sectores escolares nos diversos
níveis por acreditarmos que a formação educacional dos nossos jovens se dá
por meio do acesso aos diversos textos.