Na manhã de sexta-feira, 5 de setembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou uma mensagem que rapidamente se tornou viral: “Parece que perdemos a Índia e a Rússia para a China mais profunda e sombria. Que tenham um futuro longo e próspero juntos!” A frase, acompanhada de uma fotografia dos líderes Narendra Modi, Vladimir Putin e Xi Jinping juntos na cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em Tianjin, China, foi interpretada por muitos como um sinal de frustração — e talvez de reconhecimento — da mudança de eixo geopolítico.
A cimeira da SCO, que decorreu entre 31 de agosto e 1 de setembro, reuniu mais de 20 países e representantes de 10 organizações internacionais. Mas foi o encontro trilateral entre os líderes da China, Índia e Rússia que captou a atenção global. A imagem dos três juntos, sorridentes e em aparente sintonia, simbolizou para muitos analistas o enfraquecimento do modelo ocidental de liderança internacional e o fortalecimento de uma aliança entre potências do Sul Global.
Trump, que tem adotado uma política de tarifas agressivas contra parceiros como a Índia — incluindo taxas de até 50% sobre importações — parece agora confrontado com as consequências dessa estratégia. A aproximação entre Nova Deli e Pequim, historicamente marcada por tensões, tem sido facilitada por interesses económicos e energéticos comuns, especialmente num contexto de pressão externa por parte de Washington.
Comentadores internacionais apontam que a publicação de Trump não é apenas um desabafo, mas um reflexo da crescente inquietação nos círculos políticos norte-americanos sobre o realinhamento global. A China, com o seu discurso contra o “bullying” ocidental, tem reforçado laços com países que procuram alternativas à hegemonia dos EUA. A Rússia, por sua vez, continua a desafiar o Ocidente, enquanto a Índia mantém uma postura estratégica, sem romper com Washington, mas também sem se submeter.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia recusou comentar diretamente a publicação de Trump, mas reiterou que a relação com os Estados Unidos continua a ser uma “parceria estratégica global, baseada em interesses partilhados e respeito mútuo”.
Este episódio levanta uma questão maior: estará o mundo a assistir ao declínio da influência ocidental e à ascensão de uma nova ordem multipolar? A resposta pode não estar apenas nas palavras de Trump, mas nas imagens que ele próprio partilhou — e no silêncio que elas provocaram.