“Eu- corpo-
do tempo que me deixa mas fica
do tempo que me habita mas se esquece de um outro que se segue, talvez
O meu corpo me conta viagens de histórias adormecidas de uma morte antecedida
somos seres de construções alheias
certa tonalidade defendida feminilidade definida tesão com medida
não viram?
o falo?
não ouviram?
minha fala?
minha diferença agora também lhe tem rosto de brilho a sua valoração sustenta a maquinaria dos tempos
lhe crio paralelos para justificar a captura da minha inexistência que continua
Mas sou eu?
Me fizeram à sua imagem?
Mestres do universo do meu corpo? (…)
Pamina Sebastião, trechos do texto do só belo mesmo intitulado “O mar dourado
sangrento”.
Intitulado “Só belo mesmo” é o meu primeiro projecto artivista criado dentro de um processo de reflexão no qual me proponho pensar na colonialidade do poder, no seu impacto global, mas, mais concretamente em como ela nos chega no contexto de Luanda.
Mestres do meu universo? É a primeira série de colagens que fiz no “Só belo mesmo”e tem como fim reflectir a captura do corpo e à quem se dá o direito de existir, aparecer e ser.
Esse exercício é feito olhando para questões de raça, género, sexualidade como inscrições feitas ao longo do tempo sobre aquilo que chamamos corpo. Sendo a produção do corpo uma das principais – senão a principal – ferramentas que alimenta a estrutura “cishetero patriarcal capitalista racista” que permite a vivência à uns em detrimento da inexistência de outros.
Mestres do meu universo? Quem teceu essas inscrições? Elas vieram de onde? Como
continuam a ser alimentadas até hoje? Será que as podemos eliminar? Podemos imaginar novas formas de existir?
Pesada é a bagagem do viajante que vai do não existir ao existir e do existir ao não existir Enquanto me dura essa viagem que outros me doaram como herança ...
São diferentes hoje os olhos com que te abraço a cintura azul Ó mar diferentes também as nossas posturas ontológicas. Hoje sou eu que te tenho ...
Desperto sinto como o tempo vem morar em mim Devagar como quando crescemos e se nos apagam indelevelmente no rosto os traços da mocidade ...
“Eu- corpo- do tempo que me deixa mas fica do tempo que me habita mas se esquece de um outro que se segue, talvez O meu corpo me conta viagens de histórias adormecidas de uma morte...
A pergunta no ar no mar na boca de todos nós: – Luanda onde está? Silêncio nas ruas Silêncio nas bocas Silêncio nos olhos – Xê mana Rosa peixeira – Mano Não pode...
Durante anos, estive presa num cativeiro mental, Desorientada só observando a história universal. Presa na académica concepção de história inversa, Estudando o que menospreza e diminui a...